O primeiro estudo de coorte de nascimentos indígenas no Brasil feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicou que mais de 62% das crianças pesquisadas viviam em padrões socioeconômicos abaixo da linha de pobreza. Estudos de coorte são realizados a partir do acompanhamento de determinada população ao longo de um tempo específico.
O objetivo desse tipo de trabalho é verificar a incidência de agravos e doenças para comprovar a possibilidade de “associação causal entre diferentes condições de exposição de risco à saúde e os desfechos de interesse na população estudada”, explica a Fiocruz.
O estudo que avaliou a construção de padrões de domicílio, de água e de saneamento e se estendeu à posição socioeconômica da população Guarani é de autoria de Aline Diniz Rodrigues Caldas, pós-doutoranda da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fiocruz, com a supervisão do pesquisador do Departamento de Endemias da fundação Andrey Moreira Cardoso, no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde Pública. Pesquisadores do Programa de Computação Científica da Fiocruz; da Universidade Federal Fluminense, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da London School of Hygiene and Tropical Medicine também participaram do trabalho.
O levantamento mostra que existem três padrões para habitação e para água e saneamento e quatro para posição socioeconômica, o que resultou em 36 combinações de padrões. “Foram encontradas associações estatisticamente significativas entre domicílios precários e extrema pobreza e hospitalização no primeiro ano de vida”, disse o pesquisador Andrey Moreira Cardoso em texto divulgado no site da Fiocruz.
Segundo Cardoso, o estudo identificou a distribuição heterogênea das crianças nas 36 combinações de padrões encontrados. “Esses achados destacam que, caso as dimensões de habitação, água e saneamento e posição socioeconômica se confirmem como determinantes independentes dos desfechos de saúde em crianças Guarani, conforme observado na questão da hospitalização, elas devem ser consideradas separadamente em modelos múltiplos, buscando melhorar a estimativa de seus efeitos sobre a saúde infantil. Além disso, o método empregado no estudo poderia orientar a investigação sobre esses determinantes em estudos em outras populações indígenas.”
De acordo com Cardoso, embora sejam muito importantes para analisar dados sobre saúde infantil indígena e os efeitos das condições socioeconômicas, sanitárias e habitacionais dessa população, não existem trabalhos semelhantes ao redor do mundo. Este foi realizado em duas regiões do Brasil.
“Os dados foram coletados por meio da implantação de um sistema de vigilância local em 63 aldeias da etnia em cinco estados do Sul e do Sudeste do Brasil, entre os anos de 2014 e 2017”, informou o .
Para reduzir grande número de variáveis socioeconômicas habituais em estudos epidemiológicos, a pesquisa usou métodos estatísticos multivariados, além de identificar padrões distintos de acesso a políticas públicas de habitação e saneamento e posição socioeconômica, informou a Fiocruz.
O artigo sobre o estudoHow, What, and Why: Housing, Water & Sanitation and Wealth Patterns in a Cross-Sectional Study of the Guarani Birth Cohort, the First Indigenous Birth Cohort in Brazil,foi publicado, este mês, na revista científicaThe Lancet Regional Health – Americas.
O texto está disponível com acesso aberto e “traz um debate sobre as limitações dos indicadores socioeconômicos tradicionalmente utilizados para captar a diversidade socioeconômica em comunidades indígenas e rurais”.
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