Kettily Silva Marinho, de 37 anos, foi detida por volta de meio dia desta terça-feira (30), em Marabá. A mulher é acusada de estelionato e foi pega nas proximidades da Escola Estadual Professor Anísio Teixeira, onde conversava com uma das vítimas. Ela, que atua como professora contratada de Filosofia do estado na zona rural de Marabá, ganhava entre R$ 3 mil e R$ 5 mil com a falsa promessa de cargos públicos no estado e município.
A investigação conduzida pela Polícia Civil estima que pelo menos 80 pessoas tenham sido lesadas pelo esquema fraudulento liderado por Kettily. Após a detenção, ela foi encaminhada à 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, onde prestou depoimento.
O esforço conjunto entre autoridades e a comunidade educacional revelou um esquema ardiloso, resultando na detenção de uma professora suspeita, cujo nome está envolvido em uma série de atividades fraudulentas, uma delas, inclusive, cometida no ano de 2022, a qual ainda responde processualmente. Além disso, ela é acusada de cometer o mesmo crime em Goiânia, no ano de 2019.
A reportagem do PORTAL CORREIO conversou com o educador Magno Barros, coordenador da DRE (Diretoria Regional de Educação), que disse ter recebido a primeira denúncia sobre a intermediação ilegal de contratos para serviços públicos na área da educação. Uma vítima relatou ter investido R$ 5 mil com uma pessoa que prometia facilitar a assinatura de um contrato, o que levantou suspeitas imediatas de golpe.
As orientações foram claras: procurar a delegacia e denunciar o ocorrido. No entanto, ao longo do ano, novas vítimas foram feitas por Kettily: “Às vezes acontece de a vítima ficar com medo de algum tipo de represália ou até ficar com vergonha por cair num golpe”, explica Magno, acrescentando que algumas das pessoas lesadas se quer eram de Marabá, já que a acusada trabalha se deslocando entre municípios no entorno da cidade.
A investigação revelou que a fraude não era um incidente isolado. Gidalto Júnior, coordenador regional de administração da DRE, explicou que a suspeita mantinha grupos e prometia empregos em cargos diversos, como vigias e auxiliares de serviços gerais.
“Os contratos, falsificados em nome da DRE, eram uma farsa bem elaborada para enganar pessoas desesperadas por emprego público”, relata.
Segundo Gidalto, a identificação da suspeita foi resultado de uma meticulosa investigação. O nome dela surgiu entre as possíveis vítimas que registraram boletins de ocorrência. Documentos fraudulentos, assinados em nome da DRE, foram cuidadosamente analisados, revelando discrepâncias graves.
Os relatos das vítimas expõem a angústia de quem foi ludibriado pelo falso brilho das promessas de emprego. Graziela Brito de Souza, uma das vítimas, compartilhou sua experiência de frustração ao descobrir a fraude, ressaltando a dificuldade de recuperar o dinheiro perdido em meio às incertezas econômicas do país.
“O convite para o curso veio por meio de um amigo em comum, cuja confiança e proximidade sugeriam legitimidade. Foi me oferecido um treinamento de cinco a seis dias, com a possibilidade de ingresso em vagas governamentais já garantidas”, conta a vítima.
No entanto, o sonho e a vontade de uma vida melhor se tornaram um pesadelo para Graziela. Ela conta que a comunicação inicial ocorreu em um grupo de WhatsApp, que já estava ativo desde novembro do ano anterior. Nele, as promessas de salários entre seis e oito mil reais eram reiteradas, alimentando as expectativas dos participantes. No entanto, a realização das atividades e o agendamento das apresentações pareciam sempre adiados, sob a justificativa de reuniões com diretores e ajustes contratuais.
Uma mensagem urgente no grupo informava que a apresentação seria adiada novamente, desta vez para garantir que todos os nomes estivessem corretamente registrados e para evitar constrangimentos. Foi então que veio o golpe final: a solicitação de uma taxa de três mil reais, apresentada como parte do processo.
“Agora, além de estar frustrada, perdi um dinheiro que não consigo recuperar. Minha vida financeira está muito apertada. A pessoa por trás do esquema, que prometia oportunidades enquanto já desfrutava de estabilidade no serviço público, deixou um rastro de desconfiança e dor”, finaliza.
Kettily trabalha no Projeto SOME (Sistema de Organização Modular de Ensino), lotada atualmente na escola Lício Soleiro, em Brejo Grande do Araguaia.
DEFESA DA PROFESSORA
O advogado de Kettily, Lucas de Morais, levantou questões sobre a legalidade do procedimento. À reportagem do Correio, ainda na delegacia, ele argumentou que havia ausência de elementos que comprovem a participação de sua cliente no crime investigado: “Diante do caso, pude perceber, analisando, que essa foi uma prisão ilegal”.
Ele ressalta que aguarda a conclusão do procedimento da delegada e que está atento para acompanhar todo o processo, desde o flagrante até a audiência. O advogado também questiona a existência de materialidade no caso, pois segundo ele, as vítimas nem sequer conhecem sua cliente.
Questionado se Kettily havia feito alguma declaração sobre o caso, ele enfatiza que instruiu sua cliente a exercer o direito constitucional de permanecer em silêncio na delegacia: “É o direito dela permanecer em silêncio aqui na delegacia, só isso”, conclui.
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