"Criar é resistir, bora brincar, bora criar, bora ser feliz". Esse é um dos trechos que compõe o samba-enredo 2023 do Grêmio Recreativo Escola de Samba Crias do Curro Velho, que desfilou pelas ruas do bairro do Telégrafo, em Belém, na manhã deste sábado (11). O trajeto iniciou na Praça Brasil, seguiu pela avenida Senador Lemos, travessa Djalma Dutra até a sede do Curro Velho, na rua Nelson Ribeiro. Centenas de crianças e jovens participaram da folia, que ocorre há mais de três décadas.
“O Curro Velho é um espaço de criação de oportunidades para as pessoas, em que a comunidade tem o sentimento de pertencimento, e é esse o nosso foco. Nosso enredo traz a preservação das memórias do nosso lugar, que é uma fala muito forte da comunidade, para que o Curro Velho siga sendo um lugar aberto a toda e qualquer pessoa. No desfile trouxemos atividades desenvolvidas com muita ludicidade, criatividade, felicidade e reforçando a ideia de preservação do meio ambiente, fortalecendo questões sociais, comportamentos das relações humanas, direitos e muito mais”, explica Jorge Cunha, um dos coordenadores do carnaval do Curro Velho.
Entre as novidades desse ano no desfile está a presença da porta-bandeira Débora Gomes, que é a primeira pessoa com deficiência a assumir a função em Belém. “A representatividade desse momento é muito grande, justamente pra mostrar pra outras pessoas que tem algum tipo de deficiência, que nós podemos fazer o que a gente quiser, inclusive, participando de um desfile de carnaval, seja como porta-bandeira, mestre-sala, passista, qualquer pessoa pode. O colorido da minha fantasia, que é toda adaptada com material reaproveitado, representa isso, cada cor representa uma deficiência para lembrar que todos nós podemos ocupar todos os espaços e funções. O Curro Velho é um espaço de inclusão”, pontua. Débora começou a dançar em 2018, quando entrou na companhia de dança inclusiva "Do Nosso Jeito", parceira do Curro Velho.
Fantasiado de lobo mau, Davi Pontes, que é cadeirante, celebrou a oportunidade de participar do percurso. “O Curro Velho abriu as portas pra mim no momento mais difícil da minha vida, me resgatou e me trouxe de volta a vida, mostrando que eu poderia continuar realizando os meus sonhos por meio de ações inclusivas como essa. E estou aqui hoje realizando, no retorno do nosso carnaval, após o período difícil da pandemia, mais um sonho, de viver, de ser feliz e ser o que eu quiser ser, em um espaço de inclusão, onde todo mundo é bem-vindo, seja qual for o gênero, raça ou religião. Aqui é um encontro da cultura paraense”, destaca.
A titular da Secretaria de Cultura do Pará (Secult), Úrsula Vidal, também participou do desfile, que há 32 anos leva alegria pelas ruas do bairro do Telégrafo. “Sob as bençãos da Nossa Senhora dos Navegantes esse povo que ama cultura, os trabalhadores e trabalhadoras da Fundação Cultural do Pará, do Curro Velho, que abraçam a comunidade e criam arte, a partir de materiais recicláveis, e desenvolvem atividades que fortalecem os direitos das crianças e adolescentes. São décadas de alegria, do respeito pela arte, pela vida, da valorização da nossa cultura, que é um direito de cidadania da nossa gente. Um desfile como esse reafirma a potência e a luminosidade da cultura paraense”, pontua.
A pequena Joana Lee, 5 anos, era uma das foliãs mais animadas do cortejo. A mãe, a bióloga Ana Paula Roman, conta que a filha se encontrou na arte. “A gente sempre entendeu a importância do Curro Velho, principalmente, porque tem a finalidade de inclusão dos aspectos plurais na educação das crianças. A Joana ainda não tem idade pra participar das oficinas, mas nessa de carnaval, em específico, abriram a ala para os pequeninos. Ela amou dançar, interpretar, aprendeu todo o samba-enredo e a coreografia. Está muito feliz. A finalidade do carnaval é essa, se divertir, fantasiar, conhecer a nossa cultura. Pra mim, tá sendo emocionante de ver”, celebra.
O médico Roberto Rocha, que é avô da Maitê, conta, com emoção, a felicidade de ver a criança participando do desfile. “É muito emocionante ver ela interagindo com todos. Incentivamos a participação dela em atividades inclusivas como essa para que ela veja que pode participar com muita alegria, dançando, sendo feliz. O Pará está à frente de muitos estados com essas atividades para pessoas com deficiência ou alguma condição de saúde. Não tem explicação o que estou vivendo hoje ao ver ela festejando”, diz.
A educadora física Amanda Lopes, 25 anos, participa desde os 18 anos de atividades do Curro Velho. Essa foi a primeira experiência dela no carnaval. “Eu entrei pela Casa da Linguagem e já fiz teatro, dança e canto. O Curro Velho pra mim, representa libertação, aprendizado e vida. Estou vivendo uma experiência nas alturas, desfilando com a perna de pau, tá sendo muito bom e gratificante ver o povo na rua de novo, porque acompanhamos todos os ensaios, oficinas, muito legal”, ressalta.
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